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sexta-feira, 8 de maio de 2015

Clementine

"Há de haver dias em que a escuridão se mostrará maior, há de haver noites em que o senso racional estará longe, e o medo estará vivo dentro do silêncio"...


Notas descobertas:

É difícil dizer que não estou sendo observada. É difícil dizer que não há mal nenhum, na verdade, é difícil fazer qualquer coisa aqui. Estava no carro em direção à Underwood, era dia, mas estava escuro pela tempestade que enevoava o farol de minha pick up. A direção do vento parecia confusa, eu coloquei a mão fora pela janela do carro e o vento não estava contra minha mão, estava a favor. Faltando seis quilômetros o rádio começara a travar e a voz de Fernand Maclaugh não era mais a mesma tão doce e gentil de sempre era um som grave que me dava arrepios e me fazia querer chorar.
A pista havia chegado ao fim mas a estrada continuava por um vão de terra que ia de ponta a outra apenas no espaço de meus pneus, ao lado era mato, e ao outro lado também. Não podia eu parar para pedir ajuda? o sinal de meu celular estava sem nenhuma barrinha para salva-me, a chuva apenas aumentara e aumentara fazendo-me pensar que o segundo dilúvio estava para acontecer.
"A chuva era tanta que provavelmente se sobrevivesse por algumas semanas não era surpresa"
Avisto uma sombra na estrada que me tirava da pista de terra e me levava à mata esquerda descendo rigidamente em alta velocidade, tive de acelerar na pista mais atrás pois queria logo sair dali. Era algo como um homem coberto de extras camadas de pele de algum animal habitante dessa terra, era estranho, seu olhar, seu jeito, deduzi ser um homem, não me espantaria se não fosse.
" As gotas d'água parecem passar pelo teto do carro de estofado, o deixando com um buraco de umidade"
Precisei descer porém não era preciso esforços pois meu carro foi arremessado por alguma força, eu dei cambalhotas no ar e tudo que estava ao meu redor girou junto a mim. Estava tonta, meus dedos estavam duros de frio. Meus cabelos voavam forte pela brisa assustada que parecia correr de algo que viera do sul. Também escuto vozes, mas não vejo ninguém.
Vejo algumas fotos minhas sobre um estranho rastro de sangue.
" Carline olha para a mamãe, Carline querida... Olha para a câmera, não desvie o olhar. Não bata no seu irmão Carline. Agora todos se reúnam aqui para os parabéns das longas dez décadas e meia, minha pequena princesinha já está uma mulher. Carline minha filha, este vestido de casamento servira muito bem em você, estou tão feliz, casando assim como eu me casei, a propósito que pedaço de homem hein... Este são seus netos mamãe e papai, Jonathan e Elizabeth - Oh nossa minha filha,  já se passaram anos. - Elizabeth, pegue o presente da sua avó e cuidado com o controle, se ajustar demais a cama ela ficará tonta. - Minha filha se esse câncer me matar, está tudo bem, já vivi demais e os tempos mudaram..." As memórias finalizam a partir do momento que aquela ânsia de esmagar o estômago de estar sendo observada retorna. O relógio portátil bate quatro horas. Está escuro, será que está errado?
O braço toma uma uma dor incomodável a fazendo apertar com a mão para cessar um pouco. A perna também fora atingida por estilhaços de vidro. O passo estranho vai se tornando familiar sem nenhuma ajuda por perto e assim prossegue para a floresta adentro para abrigar-se, esperando um tempo para reconsiderar todos os fatos.
Uma placa de metal brilhante vai surgindo na iluminação considerável de velas facilitando a leitura sem a necessidade de aproximação. Antes de começar a ler um pouco, escuta uma voz chegando fracamente e se dissipando próximo a ela. Sinos que lembram-na o natal, e alguns sussurros que a recordam de ter-los ouvidos na infância, mas era longe demais para se importar. Sua leitura em silêncio irá a manter atenta a qualquer coisa que queria a pegar desprevenida.
" Clementine, oh Clementine. O nome do medo e desejos mais obscuros, a maldade humana que se cria em ondas doentias são chamadas de Clementine. Dizendo-me o que pouco recordo de ter ouvido da boca de minha bisavó. Antes haveria apenas planetas, superior a lúcifer estava Clementine, e superior a este estava Deus. Abominou lúcifer dos chãos sagrados do céu, mas o que não sabia era que Lúcifer não tinha descido por conta própria... Clementine fez sua cabeça, dizendo-lhe que ele não era ninguém, que todos conheciam o nome de Deus, mas , e ele? quem raios ele era? ninguém? a sombra da santidade, ou a luz da tragédia? Mentindo, disse a ele que Deus iria fazer um mundo mas que diferente do que Lúcifer achara sua influência não seria utilizada. E que ele estava planejando um papel em uma cela de fogo nas profundezas do que ele chamara de inferno. Isso criou revolta, e ocasionou na descida de lúcifer, levando consigo a terça parte de almas corrompidas.

O frio subia pelos seus tornozelos estava tão eminente quanto seu rosto de pavor refletido na sombra da luz baixa diante da placa de metal brilhante.
Um empoeirado de linhas finas são realçados para grandes fontes no letreiro soprado;
"Há de haver dias em que a escuridão se mostrará maior, há de haver noites em que o senso racional estará longe, e o medo estará vivo dentro do silêncio, e Clementine reinará sob seus maiores medos".
O som emitido de uma longa distância agora chegara mais perto, e sentia ela que a essa proximidade já estara sendo observada, talvez, desde quando chegou naquela longa floresta.
Em uma corrida da maneira mais rápida que conseguia. Com o braço gritando como uma parte dividida de seu corpo e seus joelhos já não era tão incômodo pelo calor de adrenalina daquele momento, ela o viu...
Olhos vermelhos grandes como uma bola de boliche e chifres contorcidos por trás dos arvoredos,  gritos sendo expelidos com uma tentativa louca de saber sobre... - QUE DIABOS É VOCÊ!!!
Carline não tinha como perguntar sem continuar correndo, se perguntado uma maneira de sair dali.
E o sussurro ficava cada vez mais alto até deixar de ser pequenas frases faladas em um tom baixo, e serem repetidas como gritos, gritos de quem? gritos de seu pai, não o que ela vivera se enganando, mas aquele que lá no fundo próximo ao seus minúsculos batimentos cardíacos dentro do guarda roupas, ela sabia quem.

Noite de natal, 1968 , Lane city;
Querido papai Noel, eu queria pedir uma boneca de pano, eu nunca tive uma então acho que o senhor bom velhinho me dará...
Com amor Carline...
Papai Noel, eu fui um bom menino durante todo o ano, e eu queria pedir que o senhor desse a droga da boneca da minha irmã para ela deixar de brincar com meus bonecos e meu carrinho, tudo eu comprei com o dinheiro do bar da esquina, eles pagam menores por levar seus engradados de garrafas seca, um centavo cada engradado...
Desesperadamente, Billy.
As cartas de natal presa por uma fitinha de enrolar cabelo de uma garotinha de seis anos, é colocada na meia próximo a lareira pelas mãos de um garoto, escondido dentro de um conjunto de camisa xadrez um pouco sujas e mangas dobradas, com um short de suspensório que fazia curvas no seu franzino corpo de oito anos.
Era uma noite, um simples noite. Mas tudo se tornou tão solitário por apenas um grito "Todos parados", seu pai não pudera prever, mesmo trabalhando para a polícia, naquele ano ele não pudera prever, era apenas um dia escuro e rabiscado por sua mente, talvez ele não quisesse e isso ocasionou na situação que aquilo se tornou. Ele havia dado tudo, mas o ladrão não estava suficientemente satisfeito, ele estava tremendo era o primeiro assalto talvez. Ele levou todos para o sótão, mas ele não viu Carline que quando se deparou com a cena correu para seu guarda-roupas onde ficara sempre seu diário e se entocou lá dentro como um coelho entra na própria toca, apenas chorou em silêncio e ouviu seis sons de trovões saindo do revólver. E ficou em silêncio enquanto avistava a sombra crescer da direita para a esquerda no corredor iluminado de lâmpada de gás que ficava no final do corredor subindo ao sótão. Era apenas o que ela podia fazer, ou talvez ligar para a polícia... Ela era uma criança com medo naquele momento e carregada pelo resto da vida por aquelas lembranças, o silêncio segurando o diário em frente ao rosto, e a falta de coragem para ligar para a polícia. Teve de ver sua mãe segurando seu pai e seu irmão de bruços no chão, sua mãe chorava e dizia que ele não a matou porque ela era mulher, e como ela queria que isso houvesse acontecido. O pequeno suspensório solto esticado para o móvel ao lado do corpo, com o emblema dourado que dizia "StyleChild" sujo de sangue, e seus pés sem sentido virados um para cada lado. Ainda era noite de natal...


" Carline... garotinha abusada, por qual razão não ligou para a polícia? ficava à poucas quadras, por quê não o fez? eu agonizei e não te atormento até hoje, nos seus sonhos, no escritório de sua droga de empresa? aonde você vá eu estarei lá... Por que??????? Eu tenho nojo de você"
O seu pai estara ali parado com as mesmas roupas brancas daquele dia, e ao seu lado que a fez parar e ficar imóvel durante alguns minutos, bem ali, com o suspensório da "StyleChild", ela o conseguia ver...
"Sua patricinha, com certeza se aproveitou para brincar com meus carrinhos e bonecos, com certeza esse circo foi armado por você, por que não trabalhou e ganhou seu próprio dinheiro... Eu te odeio, sua exibida... Sempre brigou por atenção, agora tem tudo não têm?"

Seus lábios se movem dizendo a frase "eu não tenho vocês", e finalizam com a chuva que começava a respingar apagando-os de sua frente.
O medo tomava conta novamente de sua face, ela correu por alguns metros ou quilômetros, mas não chegou a lugar algum senão mais floresta e floresta, que cada vez ia ficando mais fechada.
O relógio apontara 1:34 p.m, mas ainda estara de noite, o tempo se fechava se prostrava a mais chuva com trovões e relâmpagos.
"Do que têm mais medo, minha pequena Carline?"
Carline agora era uma jovem de treze anos, ela conseguira ver aquela cena novamente.
"Medo das mãos negras que sobem na minha cama no dia de chuva."
Ela estara apenas de calcinha e com a camisa de seu padrasto que cobria até suas finas coxas. Estava chovendo tão forte que o vento que chegara a sua janela deixou-a escancarada na primeira parte e depois por inteira. Os pingos de água eram flutuados praticamente até tocar sua pele ultrapassando o fino lençol. As cortinas voavam e o lençol flutuava na música do vento. Lutara para manter a janela fechada, consegue. Agora se deitara de bruços, estava exaustada e ficou assim do nada. Estava completamente exausta. O pesadelo retorna, mas agora não era o vento que abriu a janela, e sim alguém. Olhos vermelhos, chifres redobrados, bufava como um boi. As mãos ásperas acariciavam sua coxa e ela não pudera se mexer. Suas unhas grandes e dobradas a arranhavam com força, por todo o perímetro de suas costas, mesmo assim nada ela pudera fazer.
A mesma voz retorna a soprar palavras em seu ouvido;
"Isso, me alimente... Continue a pensar em seus piores medos... Como eu amo isso!"
Era um estranho pedido inevitável, sua memória retornava para o seu passado que ela tanto tentou esquecer. Dentro do seu coração pulsara a vida de um fio de memória que estava ali e que logo iria desaparecer.
- Como posso fazer isso, Zack? - seus joelhos tremem e se dobram para o chão frio do banheiro da escola - eu nunca fiz isso, poderia ser mais carinhoso.
O garoto que estava de pé a sua frente que poderia ser da sua idade, se não tivesse nascido em 1957.
Usava botas de couro, e era cinco anos mais velho que ela, exatamente, cinco anos. O cabelo bagunçado por um velho permanente de Hendrix, e um cheiro de gambá semi-morto agonizando cada segundo que alguém chegava mais perto dele. Mas aquele cheiro é conhecido... Derny Town, a cidade dos gambás mortos vivos ou cidade dos zumbis, era assim que todos chamavam e chamam até hoje.
- Você fica aí paradinha e caladinha, deixa que eu faço tudo meu amor - sussurra com a boca próximo ao seu ouvido, inclinando sua cintura. Foi ali, no banheiro do colégio de freiras que fez ela se confessar durante semanas, deixando mostrar que houve mais do que sua idade deixou. Não importa se ela tinha vinte ou quatro anos, tinha a mentalidade de um bebezinho naquele momento, primeira vez que havia visto sangue do seu corpo ( se não estivesse ocorrido o fato de seu pé ter tocado um espinho enquanto brincava de ciranda com suas amigas, fazendo-a correr por todo o jardim e dizer para sua mãe que aquelas minúsculas gotas de sangue iriam cair até secar todo o sangue de seu corpo)
 e daquela vez ela teve de trocar a calcinha. Era apenas uma jovem conhecendo o novo mundo. Logo a cidade ficara sabendo de tudo por conversas de jovens rebeldes como Zack, e era aí que o seu medo estava.

"Aleluia meus irmãos! Glória a Deus! Ele é o nosso salvador! Doem seu dinheiro para obras da igreja, isso, isso, digam todos amém!"
Fredderic Boulevard, o padre do confessionário, o padre que recebia dinheiro, o padre que lavava as mãos antes de arremessar hóstias nas bocas de seres humanos enganados com o bem que se transformara em maldade durante a noite, o padre. Um dia souberam que ele havia passado a mão por cima dos seios de uma criança de doze anos, e ele afirmara que fora o fato de Deus está ali naquele momento dizendo que aquela criança estara doente, foi um palpite bem executado e aflito. A criança estava mesmo doente, mas não foi Deus que o disse. E mais uma vez o padre "faz tudo" salvou a cidade.
Era noite de sexta-feira. O padre estava em roupas esportivas e um boné, que o visse naquele momento acharia que era um visitante qualquer da cidade. Entrou no bar "Olhos Frescos", um bar que sempre frequentava pelas vésperas dos feriados da semana. Sábado e domingo ele sumia e dizia que a igreja não abrira pois era os dias que ele ficava em seu quarto conversando com Deus e não abrira a porta para ninguém. Pede o de sempre; um coquetel misturado ao licor de mel, bebida mortal que apenas ele se atrevia a beber. Seu nome? Fred Vengallí, tinha até passaporte americano para qualquer um que quisesse abrir uma conversar com o corpo atlético que sentara naquele bar. Em uma dessas viradas de copo para finalizar a noite, já deixando duas notas de cem para pagar as 6 doses de "veneno" que ele tanto gostara, escutou descuidadamente na verdade sem intenção alguma os garotos conversando sobre a tal "freira devassa do pecado", foram aí que as intenções de fato começaram a tomar vida. Ele a conhecida ela era da turma de aprendizes da senhora Mona, a tutora das alunas e amiga que ele sempre ira visitar nas segundas-feira. Ele ouvira que ela fazia tudo que pedisse, era apenas chegar tranquilamente e perguntar sobre as orações do senhor, ela sabia bem o que se tratava. Comentário rude para quem tirou a inocência da garota e agora espalhara inverdades.
Ela estara vestida em roupas de freira com a bíblia aberta em suas pernas e um cruz de prata em uma das mãos (cruz que ganhara de presente assim que chegou na igreja da Senhora Mona). A missa estava se passando do lado de fora daquele pequeno dormitório, apenas Carline não tinha sido escalada para o time de freiras que rezara junto aos fiéis.
A voz envelhecida grossa roucamente diz depois de bater com os nós dos dois primeiros dedos na porta de madeira, em um tom bastante insatisfeito e que estava prestes a encontrar o que estava procurando.
- Está aprendendo sobre... - o espaço das palavras em sua boca lhe quer dar um novo sentido a frase - "as orações do senhor"? - sorrindo pelo canto da boca desengraçadamente em provocações irônicas com sua mão alisando a bata cinza com volumosas cruzes minúsculas vermelhas em cada ombro.
- Eu tenho que saber... - uma pausa diferente da do padre, essa era inocente - se quero ser uma boa freira mestre, quero ensinar como se faz para as novatas - sua frase realmente aparentou que sua inocência não estava ali, mesmo que ela não quisesse mostrar o que disse, foi o que o padre quis entender.
O padre rapidamente tira sua bata, e já está de pé em sua frente totalmente impuro. Era Fred Vengallí naquele momento longe de todas suas santas disciplinas. Ele observara que ela iria gritar, e logo tampou sua boca e sussurrou em seu ouvido palavras grossas.
- Você não quer fazer isso filha, está escutando esse som? você já o deve ter-lo ouvido - o som de um nos prosseguimentos do corredor - isso... Eles irão começar a cantar, e não poderão te ouvir. Eu sei que você ama isso, ou acha que não sei o que você fez na semana passada? - a igreja começara cantos de notas longas.
As lágrimas de Carline saltam sobre os cantos de seus dois olhos. Ela grita, mas tudo o que acontece é sua voz servir de vocais auxiliares para o coro de freiras jovens  e todos os fiéis seguidos de risadas doentias e satisfeitas.

Sua sombra toma forma, recostada na árvore iluminada apenas por uma distante lâmpada de gás que viera arrastada pela sua corrida até se cansar e cair por ali mesmo. Ri. Isso mesmo. Apenas ri. E ri mais um pouco. Até começar a dizer palavras de chicote que surravam a mente de Carline.
"Oh pobre Carline, você me decepcionou. Achei que iria rolar com o velho e deixa-lo rastejando... Ah desculpe-me você não fez isso, ele o fez por você. Carline, Carline, Carline. Ahahahaha, garota idiota... Idiota é um nome bem insignificante para você".
A pulsação de seu coração volta a ficar acelerado, mostrando-a uma grande pedra no chão e a levando forças para atira-la contra aquele mal em pessoa que estava ali diante dela a machucando. Acerta o seu peito e o faz fugir como um cachorro de chifres para dentro da floresta.
Ganha o tempo necessário para correr dali e durante a caminhada cair dentro de uma grande corva. Vinte metros de altura por três de largura. Os galhos da floresta redobram-se para o chão e se afundam, revelando a ela uma memória. Porém desta vez, não eram as lembranças dela.

"Uma breve conversa entre Lúcifer e Clementine"
- Diga-me Lúcifer, você vê esta Terra?
- É claro.
- Sabe o que ela significa?
- Na verdade, não.
- O suor e imperfeição de um ser que se diz perfeito. E você sabe o que acontece se injetar um pouco de desordem?
- O que?
- As impurezas escondidas nas ondas da maldade se tomam a aparecer. E tudo... Exatamente tudo, passa a não valer mais nada, assim como o esforço de um Deus errado.
" A conversa acaba por um bater de asas brancas, apenas Clementine havia ficado de pé observando e rindo solitariamente".

O cenário havia mudado, o que antes era uma floresta, agora é...
- Um cemitério - pensou rapidamente ao ver os buracos da cova ainda aberto e uma cripta que dizia "Lúcifer descanse em", mas a frase não continuou. As árvores eram altas, extremamente altas. O chão era feito de algum minério desconhecido, era brilhante. Havia objetos claros como ouro. Onde era aquilo? Era o inferno. Tudo para chamar a atenção e te aprisionar no buraco mais imundo que já conheceu. Carline se deparou com uma placa "Bem vindo ao inferno, diga-me o que desejas e... bem me diga o que desejas". Mas quem raios colocou isso ali?
As correntes ecoam em um som fino e calmo, era as correntes de um enorme caixão, Lúcifer estara morto. E quatros asas o carregavam. Vozes vindas de longe e olhos vermelhos por de trás da floresta voltam a observa-la. Uma harpa toca três notas e são sons que a fazem sentir enjoo, seus ossos parecem ter se degastado por décadas apenas naquele momento. A música, as vozes, tudo estava vindo apenas de um lugar estranho mais familiar. O trono de tijolos esbranquiçados, onde apenas uma pessoa calmamente a observando. Um par de olhos vermelhos que sangravam constantemente a cada memória tomada que se mostrara real por um único momento. Lembranças que assim como a de Carline deviam ficar no passado. Eles estão tranquilos a olhando friamente, frio e tranquilo a união de um casal psicopata. Eram apenas dois olhos, não haviam boca, nariz ou o resto do corpo. Apenas dois olhos acima do trono, mas que para ela foram o suficientes para compreender o que queria dizer.
" venha até mim... mostre me onde dói. Mostre me o que ele fez a você!"
E a harpa tocou mais forte e rápido, alto e cruel. Ela se tornou uma marionete dançante sem que seu corpo mandasse. Deslumbrando cada passo diante do piso reluzente que ali estava. Seu corpo ia se abaixando cada vez que chegava próximo do trono. Sua língua também ficara para fora a cada passo. Ela rodopiava para ele, até que se ajoelhou com ambas as mãos no chão, reverenciou.
"Clementine não conhece a dor, e se aproveita dela. Você conhece a dor, mas não desiste. O mundo foi cruel a você, Deus foi cruel com você. Me mostre o que ele fez a você. Aqui ele não reina, aqui é um lugar justo. Sente-se aqui Carline, deixe eu cuidar de você..."
Seu corpo segue ao trono e senta com os cabelos cobrindo o rosto, o escondendo da luz. Uma bola que emitia um brilho forte flutuava até suas pernas. E mostrava Clementine como um comercial que passa na tv. Ele com uma corda enforcando Lúcifer, a quem ele tanto amara. Logo após arrancando sua cabeça com uma harpa branca que se tornou vermelha no sangue. Ele bateu e bateu até que arrancasse destruísse o seu pescoço.
"Carline, agora você pode imaginar o que quiser, e isso ira acontecer a ele. Ele não é o mestre dos seus medos. Ele não é ninguém."
Uma risada tão irônica e cruel é soltada diante de todo o chão brilhantes e o trono reluzente. Não era Carline, era um monstro que se apossara de seu corpo e a deixou como o que ela observara da primeira vez. Chifres surgem pelo seu cabelo que se tornava negro. Seu olhar fecha-se como uma porta envelhecida, tornando os seus olhos mais selvagens.
A voz de Clementine clamando misericórdia é ouvida pelos 9 mundos. O grito contundente que se mostrou tão inútil naquele momento que o fez sentir mais dor lentamente. A imagem de suas asas arrancadas e seu sangue degustado por uma boca feminina que era tão forte quanto ele agora. Sua cabeça servindo de enfeite pendurado em um dos mastros. Seus braços e pernas em uma bandeja, mas nenhum fogo para aquecê-los. A carne crua que era um banquete e tanto para quem iria passar a eternidade com aquela única refeição no estômago. A imagem cruel era pendurada em um quadro por um velhote cego que acabara de terminar sua obra prima. E a descrição era "O mundo precisava de alguém, assim como um barco precisa de um capitão".
A fumaça foi esbanjada para cima por antigos apostadores que estavam naquela rua. O vidro próximo a eles embaraça, mostrando uma simples frase.

"Clementine  Não Morreu."







terça-feira, 5 de maio de 2015

náufrago 21 (2)

Segundo rolo desenrolado de muitos que ainda virão, o pescador lê em silêncio na sala de mapas.


 - Parte dois -



Sábado, 6 de agosto.

Meu relógio tem uma função que mostra a hora junto ao dia datado no mês (é apenas ajustar para aparecer ambos). Não sabia, isso pode me ser bastante conveniente.

17:45, mesmo dia.

O pôr-do-Sol é lindo visto de cima dessa árvore. Gostaria de ter vivido essa experiência antes, próximo a minha esposa e filhos. Ela está grávida de outra menina, sinto remorso em não estar presente em um momento tão digno como este.
Tentei fazer uma fogueira de acordo com o que está no manual, que achei junto ao kit de sobrevivência do bote que vim. A pederneira parece não reagir no atrito. Espero resolver isso logo, pois está frio e logo estarei no escuro total.
O choro só aumenta ao passar das horas e dias, isso está começando a me assustar e deixar paranoico. Vou começar a escrever duas vezes no dia. Espero resgate...






O náufrago 21 (1)

Notas encontradas à deriva dentro de uma garrafa em um mar agitado, por um pescador de uma pequena cidade.


- Parte um -




Dia 3,
Os meus primeiros dias naufragado aqui não houve problemas que me deixassem sem nenhuma alternativa. Mas nessa madrugada ás 2:41; descobri pelo relógio que carrego comigo no bolso de minha calça, que achei na areia da praia que ainda não me deixou na mão (com certeza era à prova de água pois estava úmido quando o encontrei); enquanto verificava meus galões improvisados, escutei um choro singelo que mais se parecia com um gemido frágil vindo do sentido leste à areia da praia.
Deveria ir?
Se eu não estiver completamente sozinho? pode ter sido algo da minha cabeça. Sim poderia. Mas mesmo assim não desperdiçarei essa chance.






 

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