• |
  • |
  • |

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

A casa do barco - "O significado de "Agonia".

" Talvez o preço a se pagar por um estadia no inferno seja alto demais ou talvez seja tão barato, mas tão barato, que todos os seres humanos nascem com uma passagem de ida e quando se dão conta de que estão lá já se torna impossível sair, esse é o jogo. Esse é... O propósito de vida:

- Apenas conseguir pensar em um jeito de sair do inferno. De qualquer forma. Apenas sair..."






Lecter procura alimento em um dos três freezers e se depara com carne enlatada, e bem, carne enlatada podia ser cozida mas sua fome não se importa com o aspecto cru que a carne tinha.
Do outro lado da sala Maggie e Liz estão penteando uma a outra com uma escova que havia em uma das prateleiras. Tom Chawer observa aquilo por alguns segundos questionando a si mesmo a razão por terem uma escova na casa do barco, mas a lâmpada dentro da cabeça é mudada de curso por outras coisas bem mais importantes do que lembrar-se que: trouxe uma escova e não levou de volta para casa, pois realmente estava com preguiça, e acabou por pegar no sono - Era mais ou menos isso que devia ter acontecido. Ele sintoniza o rádio, mas seus olhos permanecem estagnados nas garotas.
A sala é abafada novamente por um som de estática até pequenos grunhidos se tornarem uma voz limpa e com ar de melancolia:

- Observei quando ele abriu o sexto selo. Houve um grande terremoto. O sol ficou escuro como tecido de crina negra, toda a lua tornou-se vermelha como sangue, e as estrelas do céu caíram sobre a terra como figos verdes caem da figueira quando sacudidos por um vento forte!
- E assim diz em Apocalipse 6:12-13 - Freedie Joe disse com a bíblia na mão esquerda e pausando uma página com o um dos dedos. A voz continuara, dessa vez berrando, e Tom acompanhou, imitando:


- O GRANDE DRAGÃO FOI LANÇADO FORA. ELE É A ANTIGA SERPENTE CHAMADA DIABO OU SATANÁS, QUE ENGANA TODO MUNDO. ELE E SEUS ANJOS FORAM LANÇADOS À TERRA!

- Era a vovó que lia para a gente toda vez que íamos aos cultos nos domingos com ela. - Tom diz virando para Freedie e pousando sua mão em seu ombro. - Eu realmente ia para ouvir o pastor, enquanto você trocava olhares com Melissa. A filha do pastor de olhos azuis e loira, parecia que tinha descendência italiana, era o que falavam.
Freedie sorri de uma forma nostálgica se perdendo naquelas memórias por uma fração de segundos. Era como achar um pote de ouro no fim do arco-íris sendo que você não se lembrava que havia um ali, ele pensa e anui com a cabeça.
Suas memórias permanecem longe, ele se lembra:

- Oi Melissa, você vai ao culto no sábado? - O garoto de quinze anos diz, foi seco e sem muitas palavras (isso escondia sua timidez, pelo menos para ele parecia que sim), ruivo, e com um corpo quase formado. Era Freedie Joe que era caçoado pelos amigos como "foguinho" ou "cabeça-de-palito-de-fósforo". Ele tinha vergonha de falar com ela, mas no final de contas ele sempre tomava coragem para falar algo,(por muitas vezes, a mesma coisa) e aquela pergunta, ele realmente tinha que fazer. Se ela não fosse, a igreja não teria graça. E além do mais tinha as reprises com sua avó em casa que lia tudo o que o pastor falara e relia sempre três ou quatro vezes a ponto de um dos netos dizer que realmente já entendeu tudo e ir embora da sala (as vezes tom fingia um dor de barriga, piscava para o irmão, e ele entendia e tentava confirmar).
- Olá Freedie! - Ela sorri pelo canto dos lábios, usava batom vermelho pois o pai permitiu depois de muita insistência. Freedie ficou vermelho quase que instantaneamente. - Sim, eu vou hoje, e você? - Ela diz mantendo o sorriso. - Ele concorda com a cabeça -
E era evidente que ele iria e foi.

Madênia está de pé próximo a porta, mas não tanto, para dar tempo correr se algo chegar perto também. Seus olhos estão no céu, obviamente ela não consegue ver nada, senão a neblina enevoada e quase opaca. Poucos pontos começavam a aparecer no meio daquela fumaça, pontos verdes fluorescentes , e então o rádio falha e retoma ressurgindo de curtas estáticas dizendo:
- O sol ficou escurecido como coberto com roupa de luto, e toda a lua se tornou vermelha como se estivesse ensanguentada;e as estrelas do firmamento caíram sobre a terra, como figos verdes derrubados da figueira por um terrível vendaval. …


Tommy recobra a consciência por algum tempo, levantando-se da cadeira de balanço que agora balança sozinha, pelo o impulso.

O vento muda.

As paredes tornam a tremer mas dessa vez em uma escala maior, o frio passa na barriga de todos, era como derrubar o único forte que ainda os mantinham vivos e deixa-los à deriva. O som dos mil exércitos marchando para o confronto, se tornavam altos como martelos esmagando os ouvidos.
Todos se juntavam em uma espécie de união que englobava Tommy no meio, como se defendendo-o.
Freedie Joe está empunhando um rifle, não seria suficiente e ele sabia, apenas queria alimentar o próprio ego como "o protetor". Idiotice - ele pensa, mas afinal o que ali não era? Uma historinha-de- conto-de-fadas se tornando real, como se o lobo mal realmente existisse e o final de "a chapeuzinho-vermelho" terminasse com a vovó e a netinha inteiramente mutiladas.
A porta da frente é praticamente arrancada para fora, e por sua vez, arremessada, amassada aos pés dos sete, intimidando os pobres corações mais do que já estavam.

Se gritassem, ninguém os escutaria, mas e se escutassem, quem poderia dizer que iriam ajudar?

A força do arremesso derrubou algumas prateleiras e fez com que uma submetralhadora M3 (presente do exército à Freedie Joe Chawer, que participou deste por longos dois anos) caísse aos pés de Lecter, que também segurou firme apontando para o escuro. Mirando no nada, Lecter Humpt e Freedie Joe fazem um sinal com as sobrancelhas, permitindo um ao outro a abrir fogo abertamente. Naquele momento Freedie percebeu seu companheiro de guerra, certamente ele tinha alguma ligação.
Os tiros voam, minúsculas cápsulas que pareciam mosquitos. Os uivos chorosos de animais que estavam sendo acertados dão a Lecter e Joe uma espécie de adrenalina momentânea, os fazendo sorrir.
Mas por quanto tempo aqueles sorrisos iriam durar?

Talvez não muito:

- Viu aquilo, Freedie? Nós pegamos os desgraçados! - Lecter diz amigavelmente.
- Se juntarmos esse arsenal nós conseguimos sair daqui, eles não são imortais, morrem como cachorrinhos medrosos. - Freedie Joe ressalta, esperançoso.
Ao carregarem as armas com os pentes reservas que ficam colados na arma com uma fita adesiva, (uma cortesia de Tom Chawer, em uma brincadeira de dizer que se as balas acabarem era sempre bom ter um plano em mente, mas caso não tiver, "- descer a bala é sempre uma boa alternativa" - Joe se recorda das palavras do irmão), dois dos (Cães?) animais de dentes sobressalentes e estranhamente brilhantes pulam e agarram o pescoço de Madênia, um de cada lado, e depois a arrastam deixando um rastro de suco sangrento pelo caminho, as unhas de Madênia quebram no chão, arrastando consigo do chão um pouco de sujeira no meio dos restos das toscas extremidades dorsais da mão. Ela já não conseguia mais falar, estava se afogando no próprio sangue e se seu agouro grave, ou melhor dizendo, seu gutural úmido pudesse ser traduzido, talvez aquilo seria: - Por favor, me ajudem!
Seus olhos estão fitando todo o resto com um teor de desespero afundando em misericórdia. E suas mãos agarram uma última esperança chamada rodapé na frente da casa onde havia portas, e agora é apenas um vão gelado e só, sombrio atenuado em névoa. Somente. Apenas o tempo de Maggie se agarrar em Liz e virar seus olhos para ela dizendo: - Me desculpe, amiga.


Lá do meio eles ainda podiam ouvir uma risada histérica, uma risada de quem consegue completar sua vingança. Não podiam vê-lo, mas podiam senti-lo, e aquilo tudo era só um presente de cerimônia. Havia mais. Haverá mais.

Todos ainda permanecem imóveis, com olhares de: - Mas que Merd# foi essa?

Naquele momento todos se questionavam o significado de agonia.


Freedie e Lecter continuavam a mirar no vácuo. Liz está abraçando Maggie. Tom Chawer está ao lado de Tommy, no chão, desvairado, que por sua vez sorri inutilmente para Tom e saí do ar novamente, talvez a razão seja o efeito do clonazepam que Freedie providenciou e o deu.
Tom teve uma breve onda de ciúmes de Tommy, apenas porquê ele se manteve fora de sua mente durante aquela cena horrível e agora apagara no chão. Filho da p#@... - Ele pensa, mas depois recosta sua cabeça na parede, sentando-se, e vira o rosto do irmão mais novo de Lecter para o outro lado.


Todos respiram e algumas estão chorando em silêncio.

Uma entrega é devolvida ao remetente:

Apenas um globo, emaranhado de cabelo e sangue em ossos, ligada ao um fio que se chama "espinha dorsal", sem nenhum revestimento de carne, apenas o oco cadavérico e esbranquiçado.


E então todos marcham de volta, tremendo as paredes da casa novamente. É o fim do primeiro encontro.


Um último suspiro é dado, pelo rostos que se encontram apavorados, de Liz e Maggie.





Todos respiram fundo e Freedie usa a própria jaqueta para cobrir o rosto,



eles podem...




finalmente descansar novamente.





(Risos histéricos do escritor.)





- Por ora.






2 comentários:

Postar um comentário

 

Rust Hill Copyright © 2010 | Designed by: compartidisimo